quinta-feira, 25 de junho de 2015

O MAIS CLÁSSICO DOS MOTORES


(Publicado na Revista "Motor Clássico" de Agosto 2014)

Poderá parecer estranho ou, pelo menos inusitado, uma rúbrica de ciclismo numa revista automóvel. Creio ser nosso mister desfazer, ab initio, este aparente paradoxo.

Assim sendo, se a publicação se intitula Motor Clássico, convém relembrar que por uma questão biomecânica o corpo humano com os seus ossos, tendões, músculos e articulações é na realidade um motor. Estamos assim perante a premissa maior.

O corpo é mesmo o mais clássico desses motores, bem antes do aproveitamento de outras forças motrizes como sejam o vento, as correntes dos rios, a gravidade, a força animal ou, mais recentemente, o motor de combustão interna. Esta é a nossa premissa menor.

Assim se compreende que a adesão da bicicleta ao título desta publicação resulta virtuosamente na conclusão incontornável desta argumentação lógica, ou seja, a bicicleta é o produto tecnológico que, com elevada fidelidade, traduz o conceito de Motor Clássico - a de um veículo movido exclusivamente pelo esforço físico do seu usuário.

Desfeito o aparente insólito inicial importa avançar no assunto procurando que não haja um desfasamento entre aquilo que aqui se escreve e a temática que cruza esta revista. Sendo a bicicleta um veículo sobre rodas, de maior antiguidade até que o próprio automóvel e fruto de uma evolução que, tal como este, tem vindo a aperfeiçoar o seu design e desempenho (sem trair o que lhe está na base - a força humana - tal como o motor de combustão interna no caso daquele) fácil se torna de entender que há suficiente matéria a ser divulgada neste espaço, ao nível das origens e evolução histórica, das diferentes disciplinas velocipédicas, do design ou da análise de modelos clássicos entre outros aspetos.

Constituindo, aparentemente, mundos distintos há todavia muito mais em comum entre bicicletas e automóveis do que se poderia supor à priori. Uns e outros servem o mesmo propósito por isso ambos são considerados veículos tendo como escopo de base facilitar as deslocações terrestres. Rodas, quadros, pneus, travões, entre outros artefactos, são componentes partilhados mas o verdadeiro antepassado comum é a circunstância de algumas das marcas de automóveis ou de motociclos ainda existentes no mercado começarem por serem fabricantes de bicicletas. Veja-se, por exemplo, a Peugeot que começou por fabricar bicicletas em 1830 e em 1882 se transformou também num fabricante de automóveis atividades que, de resto, continua a manter na sua produção industrial. Também a Opel fabricou as vistosas penny-farthing evoluindo depois para as safety-bikes que estão na base do atual conceito das bicicletas que todos conhecemos.

Porém, se existe um antepassado comum, a tendência atual que reabilita a bicicleta como o veículo de emissões zero a que o universo automóvel aspira chegar, leva a que qualquer fabricante automóvel que se preze inclua no seu portfolio pelo menos um modelo de bicicleta que pode variar desde um puro conceito de estilo a uma máquina competitiva no asfalto ou no trilho de montanha, umas produzidas pelos seus engenheiros, outras em colaboração sinergética com os das marcas de topo de bicicletas, procurando, em alguns casos, e de modo pragmático, avançar no promissor mundo da mobilidade elétrica. Estão nesta circunstância a Ferrari, Ford, BMW, Mercedes, VW, Mini, Maserati, Land Rover, Porsche, McLaren, Lamborghini, Aston-Martin, Toyota / Lexus, Honda, Audi ou a Lotus.

E assim se entende como a velocipedia alcança um lugar na Motor Clássico.

1 comentário:

Miguel Barroso disse...

Um livro que tem tudo a ver com esta conversa: http://www.roadswerenotbuiltforcars.com/ ;-)