terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O que move um ciclista?


Publicado na revista "Motor Clássico" de novembro de 2015

Esta pergunta de base tem uma resposta óbvia – a bicicleta. Porém, num mundo em que as facilidades motrizes são múltiplas, o ato de pedalar adquire um significado bem mais profundo. De facto, o que leva alguém a trocar o conforto de uma deslocação em automóvel pelo estoicismo de pedalar? A explicação profunda radicará provavelmente no campo da psicologia, porém existem alguns motivos simples para que um número crescente de pessoas de todas as idades pedalem cada vez mais. Analisemos as suas motivações.

A vontade de evasão entendida aqui como o desejo de escapar da “prisão” do stress e do quotidiano. Quem pedala conhece bem a sensação de escapar desta forma pondo para trás das costas os problemas, fazendo uma pausa para retomar revigorado a sua “cidadania corrente”.

A vontade de aventura, sobretudo em todo-o-terreno, em que amiúde impera a imprevisibilidade do rumo a seguir e na sucessão dos acontecimentos mas também na paixão pelo risco controlado. É nesta improvisação das soluções que a bicicleta atua como uma verdadeira escola de utilidade para a vida do dia a dia.

A vontade ambiental, circulando fora dos ambientes urbanos poluídos (ainda que neles também se pedale com um intuito ambiental), longe dos gases de escape, cruzando parques naturais, alcançando os topos das montanhas, entrando em comunhão com a Natureza e respirando ar puro. Sentir-mo-nos como parte do Universo e reforçando a nossa consciência ecológica é a mais-valia ambiental de pedalar.

A vontade de superação, exercendo uma atividade que é muito exigente do ponto físico e mental e em que o processo de “ir mais além” é contínuo e constante. Apenas com um enorme espírito de sacrifício é possível superar a dificuldade que constitui a subida de uma montanha por uma vereda técnica, chegar ao seu topo e, de imediato, esquecer todo o padecimento. Sentir-mo-nos bem fisicamente, tal como para o Homem do Renascimento, é sentir-mo-nos bem mentalmente.

Assim se compreende que, para além da bicicleta, muito mais faz mover um ciclista.

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